
Pela 2ª vez participei na Ultra Trail da Geira Romana, este ano com 52 kms, o seu percurso foi oposto ao ano anterior. O seu início foi em Lóbios (Espanha) e chegada nas piscinas ao lado das termas de Caldelas, local muito bonito e acolhedor.
Com muita pena verifiquei que embora este ano tivesse chovido muito mais que o ano anterior, o Gerês encontrava-se quase seco, faltava muita água nos trilhos por onde passávamos, quase não havia cascatas por aquelas lindas encostas.
O rio Homem estava com o seu caudal muito baixo e para “enriquecer” e “facilitar” o dia estava quentíssimo! A Natureza é que manda!
Eu como sempre comecei a minha prova com muita cautela pois sabia o que vinha logo para começar, 2 km planos e 5 km “ligeiramente” a subir (cada um chama-lhe o que quiser).
Tive a companhia do Brito no 1º km fomos tirando fotos e filmando, depois ele seguiu para fazer a sua prova. O Mário Lima passou por mim e disse-me que o Joaquim Adelino tinha ficado e desistido pois tinha-lhe rebentado o sangue pelo nariz e não conseguia parar o sangue. Que pena pois ele seria uma excelente companhia pelo menos para algumas partes da prova. Fica para a próxima. Eu ia atrás da Dina e do Paulo Mota com o Bandarra e atrás de nós ainda vinha o Luís Duque (tigre). Chegámos ao1º abastecimento ali estava o Moutinho, a Dina não se sentia muito bem e foi falar com os bombeiros, eu segui com o Bandarra, apercebi-me que estávamos na cauda do pelotão, poucos havia atrás de nós. Fiquei assustada! Mas a seguir vinha uma boa descida embora um pouco técnica resolvi arriscar e ganhar tempo, passei à frente do Bandarra e ultrapassamos dois atletas que iam com receio da descida.
Entretanto vejo o Mário Lima e a Rosa Pratas que estavam a tentar passar o rio, quando mesmo ao lado tinham as fitas a indicar o 1º ponto de controlo e a passagem por uma ponte de madeira, nestas provas uma pequena distracção leva-nos a tomar direcções e decisões erradas, gritei por eles e continuei. Pensei que logo na próxima subida o Mário me viesse apanhar, entretanto fiquei sem o Bandarra, cheguei ao estradão de terra e tentei manter o ritmo foram os kms que fiz mais rápido alguns a 5’20, os carros que por vezes passavam levantavam muita poeira era MAU!!!! Passei um atleta que caminhava ainda me tentou acompanhar mas desistiu, comecei a avistar duas atletas à minha frente e fui tentando apanha-las só o consegui no 2º abastecimento mas mal cheguei elas partiram. Eram a Analice e a Teresa Couto, eu bebi um copo de Isostar, água, lavei a cara e lá fui. Seguia pelo estradão que eu sabia estar quase a acabar, depois viramos à esquerda para baixo e mais uma parte técnica com bastantes pedras mas curta, aqui encontro a Analice que descia quase de gatas (AHAHAH) é o ponto fraco dela as descidas! Deu-me passagem e disse-me “que não queria cair nem por nada” passei a Teresa mas resolvi esperar por elas pois se tinha finalmente encontrado companhia não me valia a pena seguir agora sozinha! Apreciei a vista magnifica da barragem de Vilarinho das Furnas e fui tirando umas fotos, mas continuávamos a correr, aqui uma parte da mata está queimada é uma desolação!
Entramos então em alcatrão onde estava uma ambulância e um socorrista numa bicicleta que nos perguntou se estava tudo bem? Nós confirmamos que sim! Aproveitamos a descida no alcatrão e demos-lhe gás, mas na “subidinha” antes da aldeia campos do Gerês eu e a Teresa ficamos a passo e deixa-mos de ver a Analice que seguiu no seu passinho pequeno mas certinho.
Nas descidas facilmente vamos com a Analice mas nas subidas é uma “tortura” tentar acompanhá-la, é uma mulher com uma garra fora de série, no entanto correr ao lado dela é um prazer pois ela consegue cantar, contar histórias, brincar com as “fraquezas” dos homens. Está sempre bem disposta, nada a chateia!
Entretanto ela apanhou boleia de outro atleta. Fiquei com a Teresa que foi a minha confrade de toda a prova. Mais tarde somos apanhadas pela Analice que se tinha perdido (coisa habitual nela) seguiu connosco mais algum tempo, mas depressa se fartou e deixou-nos outra vez, só a voltei a ver no fim da prova.
Entretanto fomos encontrando alguns atletas que tinham partido mais rápido e agora já pagavam a “factura” pois o calor era muito! Mesmo havendo muitas sombras, a água era pouca! Que saudades dos riachos, da lama e do tempo encoberto do ano passado!
Fomos correndo e caminhando, gerindo o nosso esforço, a Dina e o Paulo Mota tinham-nos alcançado, juntámo-nos também ao Nuno (que tirou fotos fantásticas) e ao Manuel Fonseca, o nosso grupo aumentava, os kms iam passando o calor aumentava, as queixas vinham do Paulo Mota que ralhava quando a Dina aumentava o ritmo ou a distância!
Eu de vez em quando lembrava-me do Mário e do Bandarra achava estranho nenhum me ter apanhado. No 3º abastecimento encontro o Bandarra sentado e pergunto-lhe, como é que me passaste, não te vi? Ele triste apontou-me um pé quase fora da meia e respondeu-me “estou lesionado!!!” tinha vindo de carro para ali. Que mau! Que frustrante! Queremos tanto algo e de repente puff! Lá se vão as nossas esperanças!
Paciência, para o ano há mais Geira!
Mais uns kms feitos, a Caledónia foi feita com um calor abrasador, as vacas espertas estavam debaixo das poucas árvores que havia. È uma paisagem magnifica, adoro aquela parte, tão despida de tudo, só arbustos pequeninos e gigantescas rochas e nós tão pequenitos a correr lentamente por um carreirinho. ADOREI!
Mais abastecimentos foram aparecendo eu bebi bastante, comer é que não conseguia, só um cubo de marmelada ou um gomo de laranja a banana não conseguia, ia bebendo os meus gels e os meus cubos de presunto quando me sentia mais fraca.
Lá íamos nós para a última subida anunciada pelo Moutinho a tal com 10% de inclinação em 600 e tal metros, a Dina enchesse de forças e abandona-nos nunca mais lhe pusemos a vista em cima, o Paulo Mota, outro Sr. (desculpe não sei o nome), o Nuno e o Fonseca tinham ficado para trás. Só restava eu e a Teresa e lá fomos caminhando o mais que conseguíamos quando chegámos ao topo, dissemos uma para a outra, “o pior já está” e lá fomos descendo agora uma descida com muita areia grossa, grandes frestas no chão, pedras por todo o lado, a descer para mim é mais fácil. Mas a Teresa teve que abastecer que já se sentia fraca (atenção que ela come como nunca vi, até pizza ela comeu) ficando melhor lá fomos tentando não nos enganarmos em lado nenhum.
Olhava para o relógio a ver os kms a passar, numa descida encontro sentado num muro e debaixo de uma árvore com outro atleta e um socorrista de BTT, o meu colega de equipa o Jorge Santos que tinha vindo com o Brito até aos 27 km mas depois não conseguiu mais,
disse-me que tinha “estoirado” com o calor eu disse-lhe que já faltava pouco eram os últimos 3 kms ! Que fixe estava quase! Ele disse que já vinha. Passamos uma aldeia vimos a estrada em alcatrão e pensávamos que era para lá que íamos …….mas não!
Virávamos á direita e mais uma subida em calçada grande que ia dar a uma quinta linda em total abandono (que pena) já não tive força para tirar a máquina para tirar fotos. Continuamos, entramos em Amares por estradinhas e encontramos a Dina Fonseca e a Yolanda preocupadas, pois o Luís (Tigre) vinha em último e ainda nos 44km. Avisaram-nos com o piso escorregadio e com os degraus e que a meta estava quase! Que BOM, uns senhores logo em seguida também nos aconselharam com os degraus escorregadios vimos um tanque cheio de água mas já não paramos agora era correr sempre para a META.
Descemos os degraus! Ai,Ai! Os meus dedos dos pés, coitados! Mas já estavam ali os últimos metros foi pena serem no passeio pois eu e a Teresa tínhamos que nos desviar das árvores do meio até á entrada da piscina. Aplausos de alguns familiares de atletas e oiço o Moutinho a chamar-me de “
campeã” e a aplaudir-me! Obrigada Moutinho! E senti-me uma
Campeã, pois cheguei ao fim sem me
perder, sem me
lesionar, sem me
chatear, sem me
arrepender, pelo contrário
FELIZ comigo por ter feito 52kms em 7h38’20.
Fiz quase o dobro do tempo do primeiro que foi o Hélder Ferreira, do União de Tomar, com 4h03’. Eu e a Teresa fizemos o último controlo e vejo logo o Brito que me esperava receoso que eu não acabasse dentro do tempo limite. Mas ainda consegui! Ainda tinha dado tempo de tirar mais fotos!
Fica para o ano!
Obrigada Teresa pela companhia e a todos os outros atletas.
No final soube que o Mário infelizmente tinha caído e feito uma lesão grave e estava triste porque o apoio que teve dos socorristas foi mau! É pena, são situações dessas que estragam boas provas e fazem desanimar mesmo os atletas mais fortes.
Eu só tenho uma falha a apontar que me toca a mim quando acabei o meu banho já não havia massagens nem o Brito já teve, pois esteve á minha espera e os massagistas só davam as tais depois de tomarmos banho! Quando acabamos já tinham arrumado tudo. Que bem que me iam saber, eu bem as merecia! Podem ter a certeza!
Em relação ás marcações e abastecimentos estava tudo muito bem, o percurso era mais DURO que o ano passado mas foi feito com coragem e determinação, sem pôr em causa “o que estava eu ali a fazer”
Que dava “jeito” mais pessoal ao longo do percurso a dar algum apoio aos atletas isso “Dava” mas não é fácil encontrar quem se disponibilize a passar horas sozinha em cruzamentos para bater umas palmitas aos atletas que vem aos soluços!
Podem ter a certeza que não é fácil!
Os meus Parabéns aos atletas que superaram a Geira Romana e o meu afecto para aqueles que infelizmente não conseguiram, não desanimem, pois Novas Geiras Romanas viram para serem superadas e ultrapassadas.
Agora falta tomar a decisão se sigo ou não para a próxima etapa .
SIM ou NÃO quem vencerá? A cabeça ou o coração!
Ultra – Otília