sexta-feira, 16 de julho de 2010

Final de época no Trail do Almonda

No passado dia 11 participei em Torres Novas na 1ª edião doTrail do Almonda, prova com elevado nível organizativo, onde os atletas foram muito bem tratados e onde mais uma vez o trail nacional ficou a ganhar.

(Equipa do CLAC com alguns amigos Adelino, Carlos Coelho e José Pereira)

Depois de ter participado na Ultra Trail Serra da Freita sabia que não tinha recuperado a 100%, assim sendo tinha que fazer esta prova com alguma contenção e inteligência. Decidi partir na frente da corrida pois logo no 1º km havia uma subida muito técnica e para não perder muito tempo teria que entrar no grupo da frente, mas ainda antes do 1º abastecimento senti que as pernas estavam um pouco cansadas, após o abastecimento a parte mais difícil da prova, a subida às antenas pelo trilho PR3 do vale do Fojo, nessa altura com aproximadamente 6 km passo a ter a companhia do Vítor Veloso.
Fazemos a subida em marcha rápida, para mim esta é a parte mais bonita da prova, no topo da serra deixa de haver trilho pelo que vamos correndo e saltitando de pedra em pedra, chegados às antenas viramos num estradão à direita e aumentamos o ritmo da corrida, rapidamente chegamos ao 2º abastecimento, (10 km em 1h20) fazemos uma pausa e lá vamos nós desta vez para a descida até ao delta D'Aire, neste momento encontramos alguns atletas que se tinham enganado, não percebo como se enganaram pois o percurso estava todo ele muito bem marcado.

 A descida é algo técnica com muita pedra no chão e uma inclinação média o facilita a corrida mas temos de ter atenção, felizmente não tive problemas durante a descida mas foram vários os "malhos" que assisti.
A descida continuou em direcção à pedreira do Galinha e já perto do Alqueidão deixamos de correr em trilho para o fazer em estradão, o ritmo era perto dos 4'30/km e num ápice já estávamos no abastecimento dos 20 km (2h15) os abastecimentos foram 5 estrelas, sempre com água fresca, isostar, melancia, laranja, banana, barras de cereaisdo melhor que já vi.
A partir daqui o terreno passa a ser mais plano mas os quilómetros e a temperatura eram o principal adversário, continuo com a companhia do Vítor Veloso somos passados por alguns atletas que se encontram em melhores condições que nós.

Aos 24 km mais um abastecimento, passagem pela localidade de A-do-Freire e agora a corrida faz-se já com um cheirinho a Torres Novas.
Já faltava pouco, mas embora a cabeça estivesse bem comecei a sentir alguns problemas ao nível muscular, os vários kms a descer estavam agora a fazer-se sentir, quando cheguei ao último abastecimento aos 27 km, as coxas começaram a dificultar-me a corrida, sentia-me preso e passei a correr com uma amplitude de passada menor, o grupo agora era de 4 atletas, deixamos o estradão e entrámos no alcatrão, o ritmo aumentou (o que para mim não foi nada bom) tento acompanhar o grupo mas na descida junto ao campo de futebol comecei a ter cãibras nos quadricipedes (igual à Freita) o que me obriga a uma paragem, os companheiros de corrida seguem e eu sou obrigado a seguir em marcha, mas pouco depois recomeço a corrida no meu ritmo e lá vou seguindo pois sei que estou muito perto.
Pouco depois chego ao jardim das rosas com 3h17'40'' (oficial foi-me atribuido 3h18'09''!!!).

Sou o 48º atleta a cortar a meta, estou contente com o meu resultado embora os últimos 3 km tenham sido bem sofridos, mas penso que foi a Ultra da Freita a dizer-me que ainda era cedo para andar naquele ritmo.

Após mais uma prova fiquei a aguardar a minha Otília e alguns atletas do CLAC que se estrearam nestas andanças, aproveitei para conversar com alguns amigos e depois lá seguimos para o almoço.


Resultados completos em:

Terminei assim a minha época, este ano a "coisa" correu melhor, consegui fazer 21 provas, totalizando 509 km.
Participei em várias provas de estrada e de trail, mas destaco a minha participação em duas Ultra Trails 
  • III Ultra Trail Geira Romana - 52 km (23-05-2010)
  • V Ultra Trail Serra da Freita - 70 km (27-06-2010)
e ainda em duas Maratonas
  • 6ª Maratona do Porto (8-11-2009)
  • 26ª Maratona Cidade de Sevilha (14-02-2010)
Agradeço a todos os que me ajudaram e apoiaram durante esta época, em especial à minha Otília.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

I Trilhos do Almonda – excelente Trail para acabar a época!


No domingo (11 de Julho) fiz a última prova desta época, a 1ª edição dos Trilhos do Almonda em Torres Novas.
A ideia era participar e divertir-me, já conhecia o percurso todo pois tinha lá feito um treino, o que me fazia ter bastante receio da parte final e principalmente do calor que se acentua naquela zona.
Depois de sermos transportados em autocarros para o local de partida ouvimos os conselhos sábios do Aníbal e foi dada a partida tudo a horas, pois o calor já se fazia anunciar.
Parti nas calmas pois não queria empatar, corremos talvez 200 metros e começamos logo a escalar, chegando ao topo começo a correr calmamente pois sinto-me cansada e com as pernas muito pesadas, aos 5 kms sou obrigada a fazer um desvio, (aliviar as águas) estou nos arbustos e vejo passar a minha colega de equipa a Mª José grito-lhe para não acelerar muito, e lá consigo juntar-me a ela e ao Capito atleta do CLAC e estreante nos trilhos.
Chegamos ao 1º abastecimento tinha tudo o que um atleta tem direito, água e isótonico fresco, que bem que sabia! Entretanto chega também a Joana nossa colega de equipa (trio fantástico) saímos as três do abastecimento e lá fomos tirando fotos com o Mayer Raposo e com o Capito.
Chegamos então ao vale do Fojo um pequeno trilho com arbustos maiores que nós, o que era bom pois fazia-nos sombra e vinha mesmo a calhar pois o calor já era muito.
Atrás de nós vão aparecendo atletas que se tinham perdido (parece mentira pois estava muito bem marcado) alguns vão chateados mas a culpa cabe apenas a eles. A subida é longa o Mayer Raposo ficou para trás. Chegamos ao topo onde estão as antenas de comunicações é um local fantástico cheio de rochas em que não temos trilhos para correr, vamos saltando de pedra em pedra, a atleta Ana Vieira vinha connosco tinha-se perdido e reclamava que nem as cabras iam para ali!
Mas para mim aquela zona com tanta pedra é o meu local preferido para correr, só faltava mesmo um riacho para ser perfeito! Como a Joana e a Zé tem dificuldades com as pedras vou-me distanciando delas e a partir dai começo a sentir-me muito bem e sem cansaço e lá vou sozinha. Corremos por estradões com bastantes pedras mas que descem e isso ajuda muito, uma aragem maravilhosa refrescava-nos, chego a 2º abastecimento bebo água fresquinha e sigo rapidamente para aproveitar o gás que tinha. Encontro o Batista mais um atleta do CLAC e também estreante nos trilhos, que mesmo a descer ia a andar queixando-se de cãibras e que tem que ir calmamente.

Continuo e vou passando atletas, só no abastecimento dos 20 kms encontro o Joaquim Adelino e a Célia Azenha que tinha acabado de dar uma queda, e chegamos então à última parte do percurso, os 10 km que são mais chatos e em que se nota muito mais o calor.
A Célia diz-me para avançar pois tem que ir calmamente, sinto-me bem e lá vou eu outra vez sozinha. A minha cabeça tentava convencer-me a correr o mais possível, devagar mas sem parar fui indo e na verdade gostei muito mais desta ultima parte do que quando tinha lá treinado, não achei tanto calor nem tão difícil o percurso! Olhava para o relógio e ficava orgulhosa do meu tempo (eheheheh) ia para as 4 h, tempo que me era impossível imaginar na partida, pois estimava para as 4h30. Quando chego ao abastecimento dos 27 km bebo e sigo, ficam alguns atletas que se queixam de cãibras, mas assim que começo a correr sinto eu o meu gémeo direito a estalar, que dor! (foi a minha 1ª cãibra) sou obrigada a parar e alongar um pouco, recomeço a andar devagar e tento correr mas não está fácil, aos poucos lá vou, chego-me ao pé de dois atletas que vão caminhando no estradão que nos leva à cidade de Torres Novas estamos perto, muito perto! Recomeçando a correr e entrando no alcatrão chegamos ao estádio municipal, é a descer que bem que sabe! Mas tenho que ir com calma pois o gémeo vai dando sinais. Ao longe avisto dois ciclistas e penso logo que os conheço são dois atletas do CLAC, o Rei e o Rodrigues que vem dar uma força aos colegas, incentivam-me dizendo que já estou a acabar.
Continuo a correr, passo ao pé do tribunal e avisto o jardim das Rosas, atravesso a estrada e passo a ponte lá está o Brito a chamar por mim, e já está mais uma prova, 4h05 um tempo para mim muito honroso que me deixa orgulhosa, depois da minha desistência na Freita.
Prova fantástica, muito bem organizada, desde o percurso aos abastecimentos nada faltou de forma a satisfazer todos os atletas, desde o 1º ao último.
Acabei a época com chave de Ouro! Agora, DESCANSO aqui estou eu!

domingo, 4 de julho de 2010

Ultra Trail da Serra da Freita provavelmente a prova mais dura de Portugal

No passado dia 27 de Junho, participei pela primeira vez na Ultra Trail da Serra da Freita, prova que neste ano tinha o rótulo “da prova mais dura de Portugal”, Trail com 70 km e 4200 metros de desnível positivo, a única prova em Portugal continental pontuável para o Ultra Trail du Mont Blanc" (2 pontos).
A serra da Freita faz parte do maciço da Serra da Gralheira, juntamente com a serra da Arada e do Arestal. É uma região de grandes contrastes, de relevo áspero e imponente. Ao austero planalto, onde só florescem os matos rasteiros, contrapõem-se os profundos vales encaixados, atapetados de espesso arvoredo, por entre o qual correm rios rebeldes e tumultuosos. Depois de três anos seguidos com a distância de 50 km (2006; 2007 e 2008), em 2009 a organização da prova decide aumentar, não só o grau de dificuldade, como também a distância para 60 km, este ano mais uma vez, aumentou não só a distância para 70 km, como, e sobretudo, o grau de dificuldade que passou a ser de EXTREMA dificuldade.
Parti para a Freita no sábado na companhia da Otília, pouco depois do almoço, durante a viagem à medida que nos aproximávamos senti várias vezes um friozinho na barriga, mas ao chegar ao parque de campismo do Merujal começámos a encontrar caras conhecidas e com a conversa essa sensação foi passando. Ao final da tarde fomos ouvir as indicações dadas pelo José Moutinho, a conversa não era animadora mas para mim aquele palavreado já não era novo, pois tinha participado no treino de freerunning na serra da Freita e já conhecia o traçado dos primeiros 50 km.

Quando decidi fazer a Freita uma das coisas que meti na minha cabeça foi respeitar a serra e tentar desde o início fazer uma boa gestão do esforço. O que me metia mais respeito era sem dúvida as condições climatéricas, pois a semana tinha sido toda ela de calor e eu com o calor não me dou bem.
O tempo passou depressa, a conversa com os Abutres, o Vítor “Laminha” Ferreira, Aníbal Godinho, Alcino Serras, Joaquim Adelino e Fernando Andrade entre outros versava a prova e as preocupações que cada um tinha, pouco depois hora do jantar, uma macarronada com carne os comentários sobre a prova durante a refeição eram jocosos tentando descontrair e minimizar o nervosismo que todos sentíamos.
Após uma noite razoavelmente dormida, acordei pelas 4h00 da manhã, últimos preparativos e pelas 5 horas os cerca de 180 atletas que alinharam à partida estavam prontos para enfrentar e percorrer o percurso mais duro e longo alguma vez corrido em Portugal.

Parti com ritmo moderado junto à Otília, a luz dos frontais era ténue e não queria logo no início colocar mal um pé o que poderia ser fatal. Cerca dos 5km (40’) decido seguir um pouco mais rápido, acelero e colo-me ao Herculano Araújo e Pedro Basso. Ainda era muito cedo, o ritmo era confortável, mas o “sábio” Herculano lá ia dizendo que a prova só começava depois do rio. No final do trilho do carteiro apanhámos o “Abutre” Vitorino Coragem, nessa altura o grupo tinha cerca de 6 ou 7 elementos (um dos quais espanhol), passámos a tasca da tia Isaura, mas não havia tempo para parar, e em ritmo certinho lá seguimos até ao rio, onde chegávamos com 2h07, antes da descida estava o Luís Leite, para se certificar que ninguém segui pelo alcatrão.
No rio o Herculano e o Basso aceleram, penso para comigo como é possível correr com aquele ritmo no rio, mas como são 3km de rio decido manter o meu ritmo, o Vitorino fica para trás, fico apenas na companhia do “espanhol”, vamos saltitando de pedra em pedra, correndo quando é possível, escalando e andando, o “espanhol” vai dizendo que a paisagem é espectacular “Estoy alucinado”, sempre com cuidado vou avançando mas a pedra está molhada e sem saber como estou no chão, uma ligeira escoriação na nádega direita mas nada de impeditivo.


Pouco depois para meu espanto encontro o Aníbal Godinho, que com algum receio lá vai avançando, gracejo com ele dizendo que devo estar a fazer uma grande prova, pois estou junto a ele… o Aníbal dá-me passagem e lá vou eu, depois da última travessia onde a água molhava mais que os joelhos…. subo a rampa e junto ao alcatrão está o Moutinho a verificar se tudo está bem, olho para o cronómetro e estou com 2h51, consegui fazer o troço do rio em 44 minutos.
Já no alcatrão eu e o “espanhol” reiniciámos a corrida, pouco depois a subida para o abastecimento dos 20 km, onde chegamos com 2h58 (o controlo fechava às 4h00 de prova). Paro para abastecer, bebo coca cola e água, encontro o Vítor Ferreira a mudar de meias o Carlos Fonseca entre outros, pouco depois chega o Aníbal, o “espanhol” que me acompanhou durante o rio decide partir, mas eu ainda tenho de preparar o isotónico, no final estou cerca de 8 minutos no abastecimento, quando parti tinha apenas a companhia de um atleta que não conheço o nome.
Lá fomos correndo, falando sobre os “Trilhos do Almourol” e da dificuldade da prova, um pouco mais à frente o Aníbal passa por nós e segue no seu ritmo, o trilho que estamos a percorrer é muito belo todo ele feito de lajes, um pouco mais à frente uma subida de pedra solta, alguns atletas à nossa frente e apanho o Vítor Ferreira que estava sentado a uma sombra a abastecer.

No final da subida forma-se um novo grupo de 3 atletas, eu o Vítor Ferreira e a Júlia. Os 3 vamos correndo até Drave, que paisagem magnifica.Ao passar pelo rio o Vítor mergulha, eu sigo a Júlia mas ela vais mais rápido e acabo por ficar sozinho, lembro-me que no freerunning que fizemos me tinha perdido, pelo que tentei ter atenção, mas mesmo assim já estava a seguir pelo trilho errado quando sou chamado por um caminheiro, que me informa que o trilho é 10 metros abaixo. Apanhado o trilho certo, percebo que a Júlia se tinha enganado e seguida outra direcção, alguém mais abaixo a chama o que as faz voltar atrás e entrar de novo na rota certa. Estamos agora na famosa subida de Drave (28,8 km) neste momento já tenho 4h35 de prova, a subida é bastante inclinada e o piso é bastante técnico, a marcha é lenta, o Vítor ao perceber a minha dificuldade passa para a frente e tenta que o grupo o siga, mas eu não tenho bastões e mantenho o meu ritmo.

Vou passando por alguns atletas que estão sentados no chão à sombra das giestas, alguns aproveitam para abastecer outros apenas se queixam do calor. Tento manter o meu ritmo e lá vou avançando, finalmente lá chego ao final da subida com 30,1 km de prova e 5h05, os últimos 1300 metros demoraram 30’. No final da subida novamente o Moutinho, que me informa que 1 km abaixo está o abastecimento, agora o terreno era em estradão que em forma de zig zag nos levava até Gourim, aproveito para correr (o que já não fazia há algum tempo). Chego ao abastecimento (liquido) com 5h19, faço nova paragem para encher o camel back e fazer isotónico, aproveito para ligar à Otília, que me diz que está ainda a caminho de Drave, que já se sente cansada e que não sabe se consegue chegar ao controlo dos 40km dentro do tempo.
Estou parado no abastecimento 11 minuto, alguns atletas chegam e seguem logo de seguida, outros param e comem. Quando decido recomeçar vou até junto da fonte para me refrescar e novo “tralho”…. desta vez foi o cotovelo direito, mas novamente nada de impeditivo. Sigo agora pela aldeia de Gourim, um trilho junto ao rio e depois de atravessar o rio nova subida (33km), desta vez a famosa “Garra”, uma subida que apenas está marcada por fitas pois o trilho nem vê-lo. Vou progredindo com dificuldade, o terreno tem muitas pedras e arbustos o calor aperta a inclinação dificulta a progressão, mas apesar de todas as dificuldades lá vou seguindo, a meio da subida sou apanhado pelo Vitorino, que lá vai dizendo que os bastões dão uma grande ajuda, sobe com ligeireza, nem parece ter a idade que tem. Quando chego finalmente ao final da “Garra” (35km) vejo o Vítor sentado, não percebo que está lesionado e sigo pelo alcatrão, opto pela marcha até que o terreno fique mais plano, o Vitorino faz-me companhia, ao chegarmos ao estradão das eólicas começamos a correr pouco depois entrámos no trilhos dos Incas, o trilho está bastante fechado o que dificulta mais uma vez a progressão, a vegetação vai-nos arranhando e ainda nós estávamos no início. Pouco depois o Vitorino tropeça e dá um grande malho, pensei para comigo que o “Abutre” tinha acabado ali a sua prova, mas o Vitorino é dos rijos e mesmo magoado levantou-se e lá fomos. Vou seguindo à frente do Vitorino, depois de algum tempo já estou sozinho, vou avançando confiante para o Abastecimento/controlo dos 40 km onde chego com 7h34 (fechava às 9h00).

Quando chego ao abastecimento fico surpreendido por ver o Paulo Mota, a Dina Mota, o Paulo Paredes entre outros, rapidamente me perguntam se quero desistir, respondo que não. Abasteço de água fresca na fonte e bebo coca cola, sento-me um pouco para aliviar as costas e acabo por estar 14 minutos no abastecimento, entretanto chega o Vitorino que abastece rápido e me “convoca” para seguirmos, formamos um grupo de 3 atletas, nessa altura passo a ter um novo companheiro o Hugo Luz. A Próxima subida que nos esperava era uma calçada romana dos 42,7 km aos 45 km, mas esta até que nem custou muito porque a vegetação não impedia a marcha, a meio da subida encontro o Carlos Fonseca sentado, diz que está tudo bem que está a descansar, lá em cima temos um estradão de acesso às eólicas, no final um trilho bastante técnico e algo perigoso que desce, desta vez o Vitorino vai à frente e lá vai reclamando que a vegetação está muito densa e que não se consegue correr, com dificuldade vamos descendo e quando alcançamos a base um estradão de terra batida, começamos a correr e nesse momento começa a chover e a cair granizo, o Vitorino fica novamente para trás neste momento tenho novos companheiros apenas conheço o Hugo Luz e o Tiago Dionísio, a temperatura apesar da chuva mantêm-se elevada, está bastante abafado, mas ainda falta bastante para acabar a corrida….

Manhouce e o abastecimento dos 50 km aproximam-se, chego com 9h55, os meus colegas de grupo abastecem e seguem logo de seguida, opto por ficar mais um pouco para atestar o camel back e fazer mais isotónico, tiro 3 cubos de presunto e como, reforço com um pouco de sal que trazia, bebo coca cola e depois de 5 minutos no abastecimento parto. O trilho em seguida é muito bonito, apanho o Mark Macedo que ia lesionado e agarrado a um pau, mas o abastecimento (as misturas) não me assentou bem, tenho de parar e vomito… tento recomeçar a corrida e recomeço a vomitar, pensei para mim mesmo que provavelmente a prova terminava ali, mas subitamente senti-me melhor e recomecei a corrida.

A partir daqui a corrida passou a ser solitária, tinha de ser eu a manter o ritmo e a gerir as energias.

Abastecimento dos 60km, chego com 12h03, como uns bolos secos e uns pedaços de banana, atesto o camel back, faço isotónico e 7’ depois parto para a subida da lomba, uma subida muito longa com um piso muito irregular e com vegetação média, no final o trilho desaparece, são 4 km em que as forças começaram a faltar, mesmo assim consigo passar alguns atletas que se encontram em piores condições que eu. Quando chego ao topo (13h12) consigo arranjar forças para correr um pouco, o Moutinho está um pouco mais à frente e informa-me que tenho cerca de 45 minutos para chegar ao próximo controlo, o dos 65 km. Agora era a descer por isso havia que recuperar tempo, consigo correr o percurso não é muito técnico e alcanço o controlo com 13h22, bebo apenas um copo de água e sigo para o desconhecido.

Faltavam apenas 5km e tinha mais de 1h30 para os fazer, o trilho após o abastecimento era fácil e lá fui correndo, pouco depois chego ao famoso PR7 - Frecha da Mizarela (que desconhecia por completo), o percurso a descer não é fácil, há bastante pedra solta e zonas em que é necessário agarrarmo-nos a correntes para transpor zonas mais perigosas, mas eu não perco tempo, consigo reagir bem e ser rápido, atravesso a ponte sobre o rio, acho graça à placa que permite apenas a passagem de 3 pessoas de cada vez,

mas a parte mais difícil estava para vir porque depois da descida começa a subida que me demorou 50 minutos para fazer 1500 metros, os degraus são enormes, há socalcos com pedra solta, a inclinação é muito acentuada (impossível de descrever), consegui fazer 1 km em 38 minutos, por várias vezes tive de parar e sentar-me para ganhar fôlego, comecei a ter cãibras nos quadricipedes, o que nesta fase é um problema para alongar, olhava para o relógio, o tempo fugia e eu via a minha “Finisher” a esfumar-se.

Nesta fase alguns atletas passam por mim, tento seguir com eles mas as cãibras não deixam. Forço para continuar e sem saber como estou a ser fotografado pelo Orlando Duarte (obrigado Orlando) que me informa que agora deixa de ser escalada e é estradão.

Mas a inclinação não permite mais que marcha lenta, começo a ouvir o Joaquim Adelino, o Fernando Andrade e o Vítor Ferreira a chamar por mim, para que eu não desista pois ainda é possível chegar ao fim dentro do tempo limite, olho para o relógio e penso que já não consigo, pois faltam menos de 10 minutos para o último quilómetro.

O terreno agora era plano mas as energias já se tinham ido naquela subida/escalada, recomeço a correr, entro no trilho que já tinha percorrido no início da prova, mas há uma pequena inclinação que me faz voltar novamente à marcha, olho constantemente para o relógio e obrigo-me a prosseguir, começo a ver mais pessoas a incitar-me, vejo o Fernando Homem e um pouco mais à frente o pórtico de meta olho para o relógio mais uma vez e ainda me faltam 2 minutos para chegar dentro do tempo de controlo.

Subitamente deixei de ter cãibras e dores só queria correr o mais rápido possível para a meta para terminar esta aventura de correr na serra da Freita.
Terminei a prova dentro do tempo limite dado pela organização (15 horas), fui o 69º atleta na linha de meta com 14h59,39 de prova.
Tinha conseguido terminar a prova provavelmente mais dura de Portugal, depois de cortar a meta um misto de sensações na minha cabeça que não sei bem por por palavras.
Se por um lado a prova foi bastante dura e todos nos queixávamos no final, por outro um prazer enorme de ter conseguido e de provavelmente querer voltar para correr a Ultra Trail Serra da Freita.


Junto ao pórtico a minha Otília, eu sabia que embora ela tivesse desistido estava feliz por me ver chegar, junto a ela a Ana Paula e o António dois companheiros que conheci neste fim de semana e a quem agradeço o apoio.

Fotos "roubadas" de vários companheiros participantes, a quem agradeço
Saudações Trailianas

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A FREITA VENCEU

No sábado quando deixei os meus filhotes em casa dos meus pais pedi-lhes um grande abraço, pois a próxima vez que me vissem seria uma pessoa diferente. Muitas aventuras iria ter no fim-de-semana, e isso foi verdade, mas não imaginava que incluía a parte de ser uma DESISTENTE.
Em 10 anos de corridas e marcha nunca tinha desistido, nem por lesão nem por cansaço.
Mas há sempre uma 1ª vez para tudo e a minha vez chegou na Senhora Freita.
Eu e o Brito fizemos uma boa viagem íamos olhando um para o outro e riamo-nos do frio que sentíamos no estômago nem eram precisas palavras.
Chegando ao parque de campismo do Merujal encontramos logo muitas caras conhecidas.
Montamos a nossa tenda perto da do Aníbal e família e fomos ouvir a palavras do Moutinho, que não eram muito encorajadoras pois falavam do calor, do percurso muito difícil, das horas nos controles, das muitas desistências que de certeza iria haver no dia seguinte.
No entanto todos nós nos íamos rindo e mandando piadas que a Freita não era nenhum Papão. O jantar correu muito bem na companhia do Adelino do Fernando Andrade, da Ana Paula Pinto e do António e outros atletas a conversa girava á volta da “loucura” de todos nós em nos propormos a uma aventura daquelas.
Chegou a hora de preparar as mochilas para o dia seguinte e tentar descansar os ossos o melhor que conseguíssemos. A noite passou rápido, às 4 horas da manhã já andava tudo de um lado para o outro, quando coloquei a minha mochila nas costas quase que andava para trás (3 kg pelo menos). Ás 5 horas lá estavam cerca de 185 atletas prontinhos para a sua aventura, feita as últimas recomendações pelo José Moutinho é dada a partida.
Meu Deus! Que ansiedade, vou correndo e penso como será que vou chegar ao fim!
O Brito vai comigo nos 1ºs quilómetros e tirando algumas fotos, a Célia Azenha passa por mim e diz que não quer ficar sozinha por causa do rio. Mas a mim não é o rio que me preocupa!
A manhã está maravilhosa o sol vai nascendo!
Aos 7 km tenho 57 minutos e penso que até não está mal.
Tenho sempre companhia. Vou com a Ana Lourenço que me diz que quer fazer a Freita entre 11h e 12h eu digo-lhe que para mim as 15 horas são o paraíso e a meta a atingir, ela diz-me que vive em França e já fez muitas provas, a próxima é o Mont Blanc ( 166 km) e que onde treina é sempre a subir. Penso se sou eu a Sortuda ou ela!
Mais tarde penso que ela é a Sortuda pois conseguiu acabar a Freita, foi a 2ª mulher e chegou com 14h28. Parabéns Ana!
Ela avança e eu continuo na retaguarda, chegamos às portas do inferno e ao trilho do carteiro, o sol está a nascer, é um espectáculo, vamos passando pelas minas de volfrâmio e imagino as vidas que ali trabalharam e sinto-me uma sortuda por apenas ali correr. Já no alcatrão sou alcançada pela Analice que continua a correr mesmo na subida, e me diz que com calma vamos chegar ao fim!
Mas depois da subida vem uma descida algo difícil até ao rio. Passo por ela e finalmente entramos no rio é por “ELE” que eu faço esta prova. A Analice fica para trás!
É um espectáculo ir saltando de pedra em pedra entrando e saindo na água, nesta altura vou com muita companhia (há quem mude de sapatilhas) quando temos de atravessar o rio de margem a margem há quem fique no banho! Eu resolvo seguir!

Quase no fim do rio encontro o Moutinho que me diz que tenho 45 minutos até ao controle (4h/20 km) e para ir saltitando para ganhar tempo! Saio do rio e já no alcatrão, sabia que o Adelino vinha atrás resolvo tirar as pedras e aliviar os pés! O Adelino chega e vamos correndo e caminhando até ao abastecimento/controle dos 20 kms. Chegamos com 3h31, bebo coca-cola e como marmelada e deixo de ver o Adelino e penso que já foi embora, resolvo ir também sem descansar muito, mas não queria ficar sozinha, farto-me de andar depressa e correr onde posso, mas nunca mais o apanho.
Vou falando com o Brito pelo telemóvel e ele vai bem. Eu vou dizendo que se calhar não chego ao fim, que o tempo está passar muito rapidamente. Na descida para a aldeia de Drave corro e tenho a companhia de dois atletas de Abrantes.
Parece um lugar de outro mundo! A seguir vem a 1ª grande subida. A imponente Drave, vou subindo e encontrando atletas sentados nas sombras de pequenos arbustos para ganhar forças!
Eu lá vou subindo e parando, olhando a vista maravilhosa, para respirar e comer bocadinhos de presunto, UUMM! Chego ao topo e tenho uma grande dor no joelho direito, peço a um socorrista para me pôr spray frio e fico melhor, começo a descer para a aldeia de Goudim e próximo abastecimento (31km).
Passo por atletas que mesmo a descer, ali até era estradão optam apenas por caminhar eu vou correndo, senão corro ali, também não corro em lado nenhum!
Chego ao abastecimento apenas uma torneira onde vários atletas enchem o camelbag eu faço o mesmo, tomo um gel e lá vou de novo.
Corremos numa zona ao lado do rio é fresco e sombrio serve para descansar para o que ai vem outra vez, temos que passar de novo um pequeno rio, alguns atletas descalçam-se e tiram meias para se porem de molho! Eu tiro só a mochila das costas (que alivio) até estou marreca e sento-me dentro de água os gémeos e joelhos agradecem.
Alguns atletas nem param eles não sabem o que os espera! Ui!Ui! É a famosa GARRA!
Deixo a água (com muita pena) e lá vou eu outra vez, a Analice aparece vem já muito cansada e diz me que isto não está fácil pois há poucos sítios onde podemos correr.
Aqui, quem tem bastões consegue progredir melhor. Sou apanhada pelo Rogério Morais que ainda vem com o Astral alto e por um grupo de madeirenses que dizem que é mais fácil fazer a Ultra da Madeira a Analice ri-se e diz “que venha o Diabo e escolha” (ahahah).
A Analice queixa-se e ralha que o tempo está a passar! Não é normal nela, isso demonstra a dureza da subida! Vai ficando para trás com o grupo dos madeirenses. Eu vou indo na peugada do Rogério, conversamos sobre os Trilhos do Almourol e esqueço-me um pouco do cansaço de subir as últimas pedras até ao topo.
Finalmente chegamos ao cimo e encontramos alcatrão, (maravilhoso alcatrão) o problema é agora correr. As pernas não querem estão rijas de tanto subir. Vou marchando o Rogério corre, mas a velocidade é igual!
A Analice apanha-nos está no seu terreno a subir ligeiramente e em alcatrão, entramos depois nos estradões das eólicas consigo finalmente correr. Deixo quase de ver os meus companheiros. Mas aqueles 3 km passam rápido!
Chegamos ao Trilho dos Incas e começo a descer, está muito fechado com estevas que nos rasgam as pernas e pedras e paus por todo o lado é uma autentica ravina! Tenho que ter cuidado onde coloco os pés mas vou correndo na mesma. Encontro novamente o Rogério e a Analice que diz “deixa passar a miúda que ela desce muito bem” AHAHAH Fico toda orgulhosa pelo elogio! E lá vou deixando-os para trás.
Olho para o relógio e faço planos, tenho 8h20 de prova se chegar a tempo ao abastecimento/controle (40 km/9h) vou continuar! Descanso 10 ou 15 minutos e continuo pelo menos até aos 50 ou 55 kms depois logo se vê! Sentia-me bem, mesmo com o joelho a queixar-se. Arranjo outras companhias descemos até um vale com uma sombra fantástica há atletas que querem lá ficar pois vamos começar outra vez a subir!
Mas só faltava cerca de 1 km para o controle, estava quase!
E lá chegamos ao abastecimento/controle com 8h38, estava dentro do tempo. Que BOM!
Mas, para meu espanto encontro um grande grupo de atletas, todos sentados (sem exagero uns 20), e pergunto-lhes o que fazem ali todos no descanso vão me respondendo que acabaram ali a sua prova! Atletas com grande experiência em provas de 100km e mais, estavam a desistir!
Alguns dizem que infelizmente estão lesionados o caso do Victor Ferreira (Guru da Laminha) que deu “cabo” de uma “pedra” com o joelho e do Tiago Branco também lesionado. Outros porque não esperavam tanta dureza na prova, e tanto calor.
E eu desanimo não estava á espera daquilo, fiquei sem força para continuar o ânimo que trazia à 10 minutos atrás desapareceu, de repente senti-me exausta. Mudei os planos e resolvi ficar também e dar por acabada a minha prova o Victor dizia-me para eu continuar, mas não conseguia, tinha Medo do que vinha a seguir.
Sabia que já não consegui chegar a tempo ao controle dos 65 kms (14h) pois faltavam-me 25 km e tinha só 5h40 para os fazer e eu sabia que a seguir vinha outra subida de 3 km que me ia demorar mais de 1 hora só para a fazer. Nunca ia chegar a tempo!
Chega o Rogério e só no último minuto do controle a Analice. Abastecem e dizem-me que vão seguir, chamam –me várias vezes para eu continuar com eles e EU NÃO CONSIGO IR! SOU uma GALINHA!
Penso em tanta coisa, telefono ao Brito e digo-lhe que fico ali! Ele diz – me que se calhar é o melhor, porque nem ele sabe se vai conseguir chegar a tempo ao controle. As subidas são duríssimas e o calor está demais! Eu penso que se continuar vou ultrapassar o meu limite físico e mental e se ficarmos os dois assim exaustos não conseguiríamos ajudar-nos um ao outro no fim da prova!
Pronto! Acabou mesmo o SONHO de ser uma FINISHER na Freita!
A seguir vem o Adelino e o Andrade já fora do controle, são informados que já não podem continuar ao que eles respondem que também já não queriam, já estavam exaustos!
Eu a pensar que o Adelino estava já para a frente e ele a tentar apanhar-me.
O Rogério e a Analice ficaram ao km 55,  cerca de 100 atletas desistiram nesta prova!

Eu não fui enganada para a UTSF!
Eu fui para a Freita sabendo muito bem o que me esperava, conhecia até aos 50 kms sabia que dificilmente chegaria ao fim dentro do tempo das 15 horas. É pouco para a maioria dos atletas. Mas tinha a ESPERANÇA de chegar mais á frente, não consegui!
Só posso culpar a mim própria e talvez o calor.
Mas fico satisfeita pelo prazer de estar na partida de uma prova tão carismática e de ter passado o Rio, pois é espectacular.
Se aprendi algo é que por vezes á coisas que não conseguimos Ultrapassar, temos que aceitar as nossas fraquezas e darmo-nos por satisfeitos por ter tentado.
Continuo a pensar que a Freita é Inesquecível, Maravilhosa e Muito DURA quem tem a capacidade de chegar ao fim é uma pessoa fora do comum.
Que o diga o FINISHER cá de casa!
Que só três dias depois caiu em si, levantou os braços e gritou “ SOU UM FINISHER da FREITA”.
Parabéns a todos que chegaram ao Fim!
E PARABÉNS para aqueles que como Eu ficaram pelo caminho.
Agradeço a quem esteve comigo no final á espera do Brito principalmente á Ana Paula Pinto e ao António, toda a preocupação e carinho que ofereceram.
Até á Próxima!
Otília