“Sí Lo Podes Sonnar, Lo Podes Lograr”
Foi uma noite mal dormida de 13 para 14 de Fevereiro, a ânsia fazia crescer um bolo no estômago o que fez com que mal conseguisse comer o pequeno-almoço.
Partimos para o estádio ás 7h15 ainda estava de noite e apenas 3graus no termómetro do carro, mas quando chegamos ao estádio ao vermos tanta gente a nossa temperatura corporal aumentou. Cada um de nós preparou o seu saco, eu arranjei uma banana para comer antes da prova, despeço-me dos meus filhotes que me encorajam e desejam sorte, da Bela (esposa do Paixão) que fez o grande favor de ficar com o Tomás e Vasco, durante mais de 6 horas.
Lá vamos nós, Eu o Brito, o Paixão, o Primo, o Luís Rato, e o José Carlos Fernandes entrámos no estádio e fomos dar às bancadas, que falta nos fazia a nossa máquina fotográfica, a vista do relvado e pista era fantástica e fazia-me desejar estar ali a chegar o mais rapidamente possível (eheheh).
Procurámos o sector onde poderíamos entregar os nossos sacos de roupa mas não encontrávamos ninguém que nos conseguisse dar essa informação, optámos por sair outra vez do estádio (conselho do José Carlos Fernandes) e dar-mos a volta para ver se encontrávamos a porta que nos levaria ao lugar certo, e claro que vimos uma enchente de atletas todos a irem para o mesmo local. Adorei entrar dentro do estádio por aquilo que eu chamo a porta do cavalo, estava frio mas a custo lá tirámos a roupa, besuntamo-nos de vaselina e começamos a encontrar os nossos amigos Tugas “o Joaquim Adelino, o Magro, o Andrade, o Carlos Fonseca, e tantos outros todos concentrados a dar apoio uns aos outros ou a eles próprios para mais uma jornada que estava a chegar. Depois comi a minha banana e lá fomos entregar os sacos da roupa a minha fila era só para Mulheres ou Atletas de Elite (ADOREI esta parte).
Começámos um leve aquecimento já na pista do estádio olímpico, o Brito ansioso sem saber o que o esperava pois não se sentia a cem por cento ( nem a 50) o Paixão ansioso porque achava que não tinha capacidade para correr tantos km, e EU ansiosa se iria fazer pior ou melhor do que a minha 1ª Maratona, eu e o Paixão ficamos ao lado do balão das 4h. Para ver o se seria possível acompanhá-lo e o Brito um pouco mais à frente!
E lá foi dado o tiro, pronto só restava uma coisa CORRER. Foi uma partida fantástica os espanhóis são muito mais descontraídos do que nós, saímos do estádio pelo túnel, eu bem procurava os meus filhotes mas não consegui encontrá-los eram demasiadas caras.
Logo ao 2º km perdi o Paixão, fiquei sem saber o que fazer continuava ou esperava por ele
sem saber o que tinha acontecido fui continuando, pois cada um de nós teria que gerir a sua prova conforme se sentisse, no final disse-me que tinha sido obrigado a fazer uma paragem para se “aliviar” e que nunca mais conseguiu alcançar-me, vi muitos atletas com esse problema.
Consegui ver o Luís Mota logo nos grupos da frente, ele está numa forma fantástica!
Sempre há procura do meu Brito para ver como ele estava lá nos conseguimos descobrir e vi que a coisa estava a ir bem, com calma mas era isso o pretendido, o José Carlos Fernandes alcançou-me e queixei-me que os balões estavam a ir mais rápido do que eu pensava. Ele disse-me que seria para compensar o atraso no túnel.
Lá fui com ele uns 2 kms até que ele apanhou boleia de um “tigre”.
Na passagem perto do estádio consigo ver os meus filhos e a Bela essa visão aquece-me o corpo e alma e lá vou eu, aos 9 km encontro a Ultra Célia Azenha que me encoraja a prosseguir encontro uma claque de espanholas fantásticas com música, e cartazes um deles diz “SI LO PUEDES SONAR, LO PUEDES LOGRAR” pensei nessa frase muitas vezes durante a Maratona, deu-me alento quando as pernas começavam a queixar-se.
Não falho nenhum abastecimento o Brito diz-me sempre que é muito importante beber e ir ingerindo os geles que levo comigo. Aos 15 km calmamente passei para a frente dos balões das 4h, sentia-me bem e lá fui, quando olhei para trás já mal os via pensei para mim logo se vê o que vai dar, aos 18 km passo pela Cecília que vai em amena cavaqueira com um atleta, está bastante frio e vento nessa rua, fico contente quando viramos á direita e a temperatura muda, parece mentira mas os kms passam bem. Chego à meia – maratona com 1h58 estamos quase, penso no que o Zé Carlos Pereira costuma dizer para o Brito “chegar aos 25 km com dignidade” essa parte estava quase cumprida. Aos 23 km penso nos balões das 4h, pode ser que eles só me apanhem aos 30 km, (estava tão enganadinha) quando olho para o lado nem acredito eles estão mesmo ali, e lá fui eu outra vez com o grupo. Aos 25km os balões rebentam um numa laranjeira e outro com um aperto entre atletas, tento ficar o mais perto deles para não quebrar o ritmo. O público continua a puxar por nós como se fossemos os primeiros. Vou chegando aos 30 km passo perto de onde tinha dormido e as pernas vão ficando mais pesadas, vou-lhes dizendo que só tem que aguentar mais 1 km, e mais outro, e outro, e outro. Vejo atletas a pararem na ambulância para porem spray também penso nisso, mas tenho receio que a paragem me faça arrefecer o ânimo e continuo, os 36 e 37 km são cumpridos quando viro para a ponte, fico mais empolgada estamos quase e ainda nunca parei. Aos 39 km os atletas dos balões (sem balão) vão piores que eu (rotos e esfarrapados) resolvo ir-me embora.
Vou aumentando a passada calmamente e vejo muitos atletas a andarem, aos 40 até me apetecia saltar estava a acabar, perguntei a 1 atleta ao meu lado quanto tempo tínhamos de prova e ele disse-me 3h55, (não tinha conseguido controlar bem o meu relógio) já via o estádio, fui aumentando o ritmo e lá vi o túnel do estrelato os aplausos eram tantos para todos que até parecia ridículo, o meu receio é que não tivesse forças para dar a volta no estádio, mas enganei-me quando desci o túnel e entro na pista quase batia com os pés no rabo (é exagerado) ainda passei uma data de atletas e comecei a ver o relógio ainda nas 4h (eu vinha perdida com o tempo) finalmente cortei a meta Triunfante.
Por José Brito
"Se não podes correr Aplaude-os"
Levanto-me pelas 6h00 locais, equipo-me, preparo os geles e a bebida isotónica, tomo a opção de levar as meias de compressão e uma t-shirt do surf, coloco vaselina em alguns locais do corpo e pomada de aquecimento nos gémeos, tomo o pequeno almoço, visto o fato de treino e desço para beber um café solo.
Quando chego ao bar já lá estava toda a comitiva, conversamos um pouco e para evitarmos confusões e o corte de trânsito, colocamos os sacos na carrinha e partimos em direcção ao estádio olímpico de Sevilha.
Chegada ao estádio pelas 7h30 ainda era noite, os termómetros marcavam 3 graus, entramos para fugir ao frio e tentamos encontrar o local (que não foi fácil) onde se deixa o saco com a muda de roupa.
Depois de várias tentativas lá optámos por sair e encontrar o local certo, com meia volta dada pelo exterior do estádio lá encontrámos o túnel de acesso, havia muitos atletas no interior das bancadas e começamos a ver caras conhecidas “os Tugas”.
Os africanos, esses já faziam o seu aquecimento e eu cheio de frio. Tiro o fato de treino coloco no saco, troco mais algumas palavras com a Otília, estou apreensivo pois nas últimas semanas os treinos não correram bem, não sei se irei conseguir correr toda a prova mas agora já não havia nada a fazer.
Entramos na pista, colocamo-nos na zona das 4h00 e aguardamos pelo tiro de partida. Nos momentos que antecederam a partida encontra o Adelino, o António Almeida e avançamos um pouco mais para a frente para junto do balão das 3h30.
Partida, impossível correr, sigo a passo junto do Almeida, ligeiro trote e chegamos ao túnel de saída, voltamos a andar e no meio de tantos atletas perco de vista o Almeida.
Após o 1º km muito lento (perto de 8’), entro no meu ritmo (4’50/km), vou passando alguns “Tugas” conhecidos, no primeiro retorno vejo a Otília e perto do 4º km vejo o José Carlos Pereira.
Ao chegar perto dele conversamos um pouco e ele diz-me que vai seguir em ritmo mais lento, continuo a correr e começo a ver alguns atletas a parar com dores de gémeos junto ao posto da cruz vermelha e penso para mim “daqui a um pouco vais ser tu”.
Na passagem junto ao estádio vejo a família Mota, pose para a foto mas penso que não saiu bem. Um pouco mais à frente lá está o Vasco (com a máquina em punho), o Tomás e a Bela, mais uma pose para a foto e lá vou seguindo.
Pouco depois vejo um cartaz, entre o muito público que aplaudia os atletas com uma frase que me deixou arrepiado "Se não podes correr Aplaude-os", senti bastante essa frase, pois já tive impedido de correr.
Ao 12º km apanho o balão das 3h30, tomo a decisão de ficar junto dele e aproveito para reabastecer, ao 18º km o tipo do balão faz uma paragem técnica para aliviar, o grupo desfez-se e sem perceber aumentei o ritmo voltando novamente a rolar a 4’50/km.
Passagem à meia-maratona em 1h44 no meu cronometro pessoal, oficial foi 1h46.39.
Aos 24 kms sinto o posterior da coxa esquerda a prender, reduzo o ritmo para 5´/km, mais um gel e sigo nesse ritmo.
28 kms passagem por uma zona de empedrado e desta vez foi o gémeo direito a dar sinal (possivelmente por me estar a defender), reduzo o ritmo e passo a correr a 5’05/km.
Aos 32 kms apanho o Fernando Andrade que me diz estar em dificuldades devido à saída demasiado rápido, encorajo-o e sigo no meu ritmo, mas aos 33 sou obrigado a arranjar um novo ritmo 5’15/km, que consigo manter até aos 35kms, mesmo assim vou passando por muita gente é também por essa altura que passo pelo José Magro, mais umas palavras de incentivo e lá vou eu.
Mas as forças estavam no limite e ainda havia 7kms para correr, passagem pela ponte e já se via o estádio à nossa esquerda, o ritmo ia caindo e por essa altura já estava a correr a 5’25/km, 36, 37 e 38km, nessa altura passa por mim o José Carlos Pereira, incentiva-me a acompanha-lo mas eu com receio das cãibras opto por manter o meu ritmo e vejo-o a ganhar distância.
Chego aos 39km e penso ser a altura de arriscar, aumento o ritmo para 5’15/km, abasteço aos 40km com dois copos de isotónico e aumento o ritmo (5’/km), já só faltam 2km o estádio é já ali, mais um esforço e o km 41º foi corrido em 4’57, aumento ainda mais e apanho o José Carlos Pereira antes da entrada do túnel de acesso, depois vem a descida reduzo para não ter cãimbas tão perto do fim e volto a aumentar na pista, passo os 42km e o último km tinha sido corrido a 4’51, faltam 195 metros.
Na recta da meta olho para o relógio oficial de prova e vejo que vou acabar na casa das 3h35, ainda tenho tempo de ouvir os meus filhotes a aplaudir na bancada e de sentir uma alegria imensa.
Tempo oficial 3h35,20, no chip 3h33,48
Pouco depois de eu cortar a meta chega o José Carlos Pereira, ele também estava muito contente, falámos um pouco, mas as emoções faziam com que as palavras ficassem presas (ou então era do frio), um pouco depois outro José Carlos corta a meta desta vez o José Carlos Fernandes, também ele contente com a sua prestação.
Toalha colocada nas costas pelos muitos voluntários, retiram-nos o chip e a caminho do local de levantamento dos sacos colocam-nos o medalhão ao peito. Vou rapidamente tomar banho pois estava a ficar congelado e fico na expectativa em relação à prova da Otília.
Depois do banho tomado, com água bem quentinha (instalações 5 estrelas, até o balneário era alcatifado) alonguei um pouco na companhia do José Carlos Fernandes, vejo o Fernando Fonseca e pergunto-lhe pela Otília, ele acalma-me dizendo-me que ela vinha à sua frente e que ele tinha terminado com 4h15, fico mais descansado e rumo para a carrinha.
O Francisco Primo já tinha chegado há muito tempo, tinha corrido a sua 1ª Maratona em 3h11.
O tempo ia passando e a Otília não aparecia, eu estava a ficar preocupado, mas pouco depois lá vem ela com um sorriso de orelha a orelha, tinha estado na massagem e tinhas conseguido correr a Maratona abaixo das 4h00, (3h59,15 no chip).
O António Paixão também estava bastante contente, tinha conseguido concretizar um sonho, correr uma Maratona. Fez a sua estreia na distância aos 59 anos, percorrendo os 42.195 metros em 4h12,27 (no chip).
Toda a comitiva estava contente e animada, tudo tinha corrido bem, só faltava o almoço final, servido novamente no forte da ilha mágica onde voltámos a encontrar bastantes “Tugas” e alguns deles até com direito a serem brindados no sorteio.
Depois de comido o arroz e de me ter hidratado com umas loirinhas assistimos a entrega de prémios e toca a dar corda às canetas que ainda tínhamos 4 horas e tal de viagem pela frente.
Um agradecimento ao Luís Rato, que embora tenha corrido a Maratona foi o nosso motorista de serviço nos dois dias.
(José Carlos Fernandes, Francisco Primo, António Paixão, Otília Leal, José Brito e Luís Rato)
A todos os que tiveram pachora de ler estas duas Estórias, saudações desportivas.
7 comentários:
Muitos parabéns Otília e Brito...
Gostei de ler estes 2 relatos (e com outros que li esta semana)... dá vontade de ir a Sevilha também.
Abraço,
Rui
"Pachora" nenhuma Brito, excelentes relatos.
Renovo os parabéns por mais uma maratona corrida, como dizia alguém, são estas que contam.
Grande abraço.
Parabéns à Otília e ao Brito pela excelente prova que fizeram e pelos resultados conseguidos. O relato que nos deixam está muito emotivo deixando-nos verdadeiramente "agarrados" aos pormenores e a viver aquele momento que foi fantástico.
Parabéns!
abraço
MPaiva
Parabéns por mais este desafio.
É depois de ler estes relatos que fico cada vez com mais vontade de experimentar esta distancia.
Pode ser que calhe um dia destes.
Um abraço.
Também é com relatos destes que se conseguem conquistar novos aderentes para a Maratona. È pena em Portugal não se incentivar mais os atletas a participarem, bastava aproximarem-se desta organização de Sevilha para que os portugueses começassem a aderir muito mais, assim, vamos nós puxando a carroça pode ser que alguém aprenda alguma coisa. (Aqui não entra a Maratona do Porto que está cada vez mais próxima do ideal para um atleta ganhar e manter o gosto pela Maratona.
Parabens pelas duas histórias, uma delas desenrolou-se ali muito perto de mim, muito bem Otília.
Um abraço para ambos.
Olá Otília e Brito,
Melhor que vocês correrem a maratona é a oportunidade de ler este extraordinários relatos!
Muitos Parabéns por este duplo êxito !
Um grande abraço
Mark Velhote
Olá Otília e Brito!
Dois excelentes relatos, na primeira pessoa, de quem participou numa excelente prova.
Esta é uma distância fascinante que é muito sentida por quem já a “bateu” metro a metro.
É a minha prova de eleição e em Portugal, sempre que possível, marcarei sempre presença, daí ter muita pena em não poder correr na “ Carlos Lopes”, pois estarei em Paris.
Aproveito para aconselhar a Maratona Carlos Lopes a todos os Maratonistas, pois é mas uma Maratona em Portugal e a sua dimensão depende de todos nós.
Mais uma vez muitos parabéns pelo resultado de Sevilha e votos do maior sucesso para os Trilhos do Almourol.
Grande abraço,
Luís Mota
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