sábado, 13 de outubro de 2012

Grande Trail Serra D’Arga - Maratona de Montanha (45 km)

Obrigado Carlos Sá, parabéns pela prova e pela aventura que nos proporcionaste

Esta era a prova mais esperada por nós, após na 1ª edição no ano passado ter sido interrompida aos 21 km na localidade de S. Lourenço da Montaria por razões de segurança.
Partimos no sábado rumo a Caminha na companhia do colega de clube José Oliveira e a sua esposa Luísa, chegámos ao local de levantamento de dorsais e havia muita cara nova nestas andanças, o norte fervilha de novos atletas rendidos ao trail. Depois de uma breve visita à feira de material de trail ainda fomos a tempo de ouvir a palestra do Marco Olmo, embora o homem não falasse muito foi de fato impressionante ver a sua simplicidade e a sua filosofia de vida.
Após ouvir as recomendações do Carlos Sá, sobre a prova, seguimos para os alojamentos turísticos Camarido, este aldeamento efetuou um parceria com a organização, possibilitando dormidas a um preço bastante acessível e nós sabendo das dificuldades que iriamos encontrar, optámos por fazer uma boa noite de sono, o local não podia ser melhor.
No dia “D” levantámo-nos às 6h00, tomámos o pequeno almoço e partimos para Dem, local de partida do Grande Trail Serra D’Arga. Pouco depois das 7h00 já estávamos prontos para fazer o controlo inicial e partirmos à aventura.
A partida foi dada à oitava badalada do sino da igreja, os primeiros 3kms são feitos em subida, o 1º km por estradão mas logo em seguida inicia o trilho de pé posto. No início vamos encontrando muitas caras conhecidas e aproveito para pôr a conversa em dia, quando chego ao 1º abastecimento (3km) encontro-me junto da Susana Simões (vencedora feminina), junto a ela vai a Cristina Carvalho e a Júlia Conceição, opto por seguir junto a elas e observar a “luta”… a Susana corre com uma leveza que faz inveja, o Telmo Veloso e o Pedro Marques vão dando apoio e assim vamos progredindo serra abaixo. Na descida passamos por manada de cavalos selvagens, sinto-me fresco e feliz. Na passagem pelo abastecimento do Mosteiro de São João de Arga a Susana foge um pouco, optei por seguir num ritmo mais consentâneo com o meu nível pois ainda faltava muito.
Em seguida vem o troço junto ao rio Âncora, o piso estava bastante escorregadio, mas consegui transpô-lo sem cair ou escorregar, esta parte obriga-nos a muita atenção e por vezes nem foi possível observar a beleza do percurso. A zona em que corremos junto a uma levada é muito bonita e depois a zona da cascata, consegui fazer toda esta zona sem molhar os pés, mas no subida final (que fiz com tração às quatro) a lama era tanta que foi impossível manter os pezinhos secos.

Quando cheguei ao alcatrão sentia-me bem e com forças, pelo que optei por seguir em bom ritmo de corrida até ao abastecimento de S. Lourenço da Montaria. No abastecimento não demorei muito tempo, parti acompanhado pela Cristina Carvalho e Pedro Marques, mas logo após a primeira rampa vou ganhando algum avanço, vou correndo nas zonas menos inclinadas e caminhando nas outras. Pouco depois alcanço o José Sousa das Lebres do Sado, queixa-se de uma dor no joelho esquerdo que o impossibilita de subir ao ritmo desejado, vou continuando a subir e afasto-me, a subida é longa mas não sinto dificuldades em progredir. Alcançamos o topo da serra aos 24 km, depois vem uma descida em calçada romana espetacular, infelizmente as descidas não são o meu forte (também não são as subidas), sou passado por alguns atletas, entre eles o António Ferreira, o José Simões e o José Sousa, eles descem como loucos, opto por ser mais cauteloso, mas travar nas descidas também faz estragos, as coxas começam a dar sinal… em 2,5 km passamos dos 813 metros para os 387, mais de 400 metros de desnível. Passagem pelo abastecimento dos 29 kms em Cerquido e o pior estava para vir… uma subida duríssima que nos leva à Srª do Minho. Começo a ter dificuldades na progressão, neste momento tenho como companheiro de aventura o António Ferreira, que vai fazendo um pára e anda constante, para se refrescar nas várias fontes naturais que vai encontrando, mesmo assim sobe melhor que eu. Depois de vencido o último morro passamos junto à capela da Srª do Minho e entramos numa zona sem grandes dificuldades até aos 36 km, local do último abastecimento sólido. Consigo chegar aqui com 5h30 e penso que a prova já está “conseguida”, puro engano.
O percurso aqui é um sobe e desce constante por pedras e trilhos que só o Carlos Sá consegue ver. As coxas começam a dar sinal, vou tentando gerir, mas já depois dos 40 kms, quando vou descendo um estradão e penso que já tinha ultrapassado tudo o que havia para ultrapassar, sou novamente surpreendido por um elemento da organização que nos informa que ainda faltam 5 kms… para irmos com calma, que era só subir mais 800 metros, depois era plano (só na cabeça dele) e depois seria a descida final. Cheguei a pensar que o percurso agora seguiria pelo estradão onde me encontrava, puro engano. As fitas indicavam à nossa esquerda a tal subida de 800 metros… e que subida, a inclinação é grande e alguém atrás de mim reclama que aquilo era uma escalada, vou progredindo com bastante dificuldade esperando que as cãibras não apareçam, sento-me um pouco numa pedra para dar descanso às coxas, volto o reiniciar a marcha (se é que se pode chamar marcha), em alguns obstáculos mais difíceis vou utilizando as mãos para ajudar à progressão, neste momento sou alcançado pela Cristina Carvalho que aparenta estar mais fresca que eu, vejo-a a afastar-se e ainda tento seguir na sua companhia, mas o corpo não deixa. Ao chegar à zona do último abastecimento bebo um gole de água do cinturão que transportava e imediatamente sinto cólicas e sou obrigado a vomitar, paro junto a uma pedra para me recompor, mas sinto fortes dores abdominais e um enjoo que não consigo explicar. Sabia que faltava muito pouco, sentia-me fraco mas não podia ficar ali, passo pelo abastecimento e “meti” um copo de Powerade na esperança que me desse forças para seguir. E lá vou eu serra abaixo, o estômago estava melhor, agora era só esperar que as coxas não fraquejassem, tudo aquilo que tínhamos subido no início agora era a descer, engane-se quem pense que a descida é feita num ritmo mais rápido que a subida, a primeira parte da descida é bastante técnica, só a meio é que se consegue correr. Olhando para baixo vê-se a igreja e ouve-se o som da chegada, já cheira a meta, as pernas estão a responder bem, vou ultrapassando quem agora vai em piores condições que eu, entrada no último km, agora é só estradão e a descer, corro a um bom ritmo, talvez rápido demais, mas o bichinho é assim…
Metros finais e lá está o pórtico e o campeão Carlos Sá para me entregar o prémio Finisher.
Completei esta aventura em 7h04:19, 130º lugar da geral masculina, em 331 atletas chegados.
Depois deste EMPENO, tinha que repor energias, mas o estômago teimava em não aceitar a oferta, várias vezes tentei mas o resultado foi sempre o mesmo. Os minutos foram passando e comecei a ficar apreensivo se a Otília conseguiria vencer a dureza desta prova, embora ela seja a única cá de casa que tem o passaporte dos 3 dígitos carimbado (completou os 100 km de Portalegre), mas como a prova teve uma dificuldade extrema a dúvida subsistia.
Seguiu-se o banho, este ano com muito melhores condições e pouco depois o José Oliveira, que devido a problemas respiratórios teve de abandonar as 21 kms (nem sabe do que se livrou) informou-me que a Otília já tinha terminado.
Mais uma vez ela triunfou, conseguiu vencer o desafio e completar a prova em 8h40:01, no 15º lugar da geral feminina, em 22 atletas chegadas.

Nota: para a próxima ler com atenção as indicações da organização

MUITO IMPORTANTE
· É preciso ter a condição física adequada às características desta prova de extrema dureza, que junta ao mesmo alta quilometragem, longa duração, terreno montanhoso, grandes desníveis, exposição ao sol, etc.
· É imprescindível beber em todos os abastecimentos e alimentar-se convenientemente.
· Devido às características tão especiais da prova, é recomendável a utilização de calçado e roupa adequada, corta-vento, boné, óculos e creme solar sempre que precisar.
· O participante deverá ter em conta a necessidade de levar abastecimento líquido e sólido adicional pessoalmente.
· Como amostra da dureza da prova prevê-se que os primeiros corredores completarão o percurso em cerca de 3:30h.

Obs: A organização pensava que os primeiros faziam 3h30, mas na realidade fizeram perto 5 horas…

Saudações Trailianas

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