A 31 de Dezembro em várias partes do mundo realizam-se corridas de São Silvestre, mas a mais antiga, tradicional e prestigiosa corrida realiza-se no Brasil na cidade de São Paulo (quem sabe um dia... lá não deve fazer frio e chuva).
Durante a viagem o espírito era de esperança que ocorresse um milagre e que a chuva diluviana acabasse por parar (afinal não pode haver assim tanta água lá em cima), a dúvida no entanto persistia “onde iríamos estacionar o carro?”, após um contacto com a Paula decidimos apontar para o Parque subterrâneo do Martim Moniz. Chegamos ao parque (pelas 17h30), encontrámo-nos com a Paula Freire que tinha os dorsais dos restantes elementos da equipa (Brito, Otília, Joana e Pinhão), após a distribuição dos sacos começamos nos preparativos para a nossa competição.
Devido à chuva que teimava em cair, decidi (com uma forte pressão da Otília) realizar a corrida com calções de Lycra, duas t-shirts e um impermeável, de forma a manter uma boa temperatura corporal e precaver possíveis resfriados.
Ligeiro aquecimento no interior do parque e 20 minutos antes da hora de partida partimos em direcção ao Rossio e mantivemo-nos debaixo de um dos toldos que rodeiam a Praça até aos momentos que antecederam o trio de partida.
Eu e a Otília (acompanhados pelo Pinhão e a Joana) resolvemos entrar no sector dos 50’ (tempos previstos entre os 50 e 60 minutos) ajustamos a estratégia para realizarmos a prova em conjunto, pois havia da minha parte alguma preocupação relativamente à minha condição física, só tinha realizado dois treinos desde meados de Novembro (depois da Ribafria).
As condições climatéricas melhoraram e ouviu-se a voz da Campeã Rosa Mota no som ambiente, pouco depois a buzina que dava o tiro de partida.
A confusão foi a normal para uma prova desta envergadura, embora a curva à esquerda e o estreitamento da faixa de rodagem junto à estação do Rossio não tivessem facilitado a tarefa de quem queria correr mais rápido, algumas dificuldades também criadas por quem teima em partir à frente mas no entanto apresenta andamentos de lá de trás (alguma falta de formação por parte de alguns atletas de pelotão), mas lá fomos nós dar a volta à Praça dos Restauradores e regressámos à Praça D. Pedro IV (Rossio), descida pela Rua do Ouro em direcção à Praça do Comércio (local onde trabalhei durante dois anos na 2ª Esquadra), o 1º km já tinha sido corrido e eu nem o tinha visto tal era a multidão.
Viragem à direita para a Ribeira das Naus e a Otília tinha ficado uns metros para trás (mas estava tudo controlado), as minhas pernas estavam a entrar no ritmo (o aquecimento estava feito), retorno no Cais-do-Sodré e o 2º km também já tinha sido passado e eu nem o tinha visto (também era de noite, tenho essa desculpa), no regresso à Praça do Comércio apercebo-me que a Otília tinha ficado”bloqueada” por um grupo de atletas, reduzo o ritmo e procuro aquele boné vermelho, passado alguns segundos lá está ela, pergunto-lhe se está tudo bem e tento convence-la a apanhar o tipo que corria com o balão azul com a marca dos 50’ (objectivo previsto para a Otília), a Otília percebeu que a minha vontade era ir mais rápido e então deu-me luz verde, entretanto já tinha passado o 3º Km e eu nem o tinha visto.
Ao entrar na Rua da Prata (ligeira subida) mudo de ritmo para os 4,20/km, tentando manter um ritmo cardíaco abaixo das 170ppm) e tento chegar ao tal tipo com o balão, o que acabei por concretizar já na Praça dos Restauradores, pouco depois o 4º km (passagem com 19,09 no meu crono), finalmente tinha “encontrado” um km, e inicio da subida da Av. da Liberdade procurando manter o ritmo de corrida (a subida é um pouco longa), passagem pelo 5º km em 24,51 oficiais (23,59 no meu crono), o ritmo tinha diminuído para 4,50/km mas também era a subir, pouco depois veio o retorno e deu-se início a descida (tudo o que sobe desce), as dificuldades tinham sido ultrapassadas no topo da subida o meu ritmo cardíaco era de 173ppm o que até nem era mau para os objectivos iniciais, pouco depois cruzo com a Otília que ainda vinha no subida, grito-lhe algumas palavras de incentivo “Vai lá Tí” ao que ela responde “Vai lá Brito” (só mesmo nós percebemos esta linguagem).
Passagem pelo 6º km em 28,30 (no meu crono) a um ritmo de 4,30/km, era a melhor parte da prova o espectáculo de ver toda a Avenida cheia de gente a correr era maravilhosa (já tinha saudades destes ritmos e de correr), o percurso a descer e toda esta motivação leva por vezes a alguns excessos pelo que a passagem ao 7º km foi feita em 32,44 (no meu….) a um ritmo de 4,14/km, a pulsação essa continuava nas 173ppm.
A Praça do Comércio já tinha sido passada mais uma vez e já estava novamente em direcção ao Cais-do Sodré o percurso agora era plano, depois daquele km corrido a um ritmo mais rápido houve a preocupação de tentar correr um pouco mais lento, passagem ao 8º km em 37,09 (no m….) o que dava um ritmo de 4,24/km, mas o ritmo cardíaco em vez de diminuir tinha aumentado para as 175ppm (sinal que a fadiga vinha a caminho), mas como as pernas estavam bem e motivação também manda alguma coisa ai vai ele para o 9º km corrido em 4,11/km, passagem em 41,20 (já sabem no meu crono), uma olhada para o cronómetro e umas contas rápidas de cabeça “isto ainda vai dar para entrar na casa dos 45 minutos), mas é então que se instala um dilema a pulsação mantinha-se nas 175ppm (já acima das imposições por mim impostas) será que valia a pena forçar, já tinha sido tão bom ter conseguido correr assim…
Entrada na Rua da Prata, ligeira subida, a sensação de ter conseguido era enorme, o ritmo cardíaco manteve-se até à entrada da Praça do Rossio para os 200 metros finais, momento em que passou para as 178ppm, não sei se por ter acelerado para a meta ou pela emoção de todo aquele espectáculo, um olhar para o cronómetro da organização e já tinha acabado. A marca obtida de 46,41 oficiais (45,49 no meu crono) com um quilómetro final de 4,28/km superava tudo aquilo que podia esperar no início da prova. A minha frequência cardíaca média foi de 160ppm e a máxima atingiu as 178ppm (um pouco acima do aconselhável para mim...)
Depois de bebermos um chá bem quentinho (desculpa Susana e Mota, mas não conseguimos resistir a copiar esta coisa do chazinho), fizemo-nos à estrada.
Esta foi a história da minha São Silvestre (e dos EntroncamentoRunners) que embora não tivesse ocorrido no dia 31 de Dezembro foi a melhor São Silvestre do Mundo.